A imagem eternizada por Alberto Ferreira do “Rei do Futebol” é insuperável. O instante decisivo, o clique exato, feita pelo gênio do maior editor de Fotografia que o Brasil já teve. Em um Maracanã lotado, quando o esporte das multidões era de fato feito para atingir um público imenso de pelo menos 150 mil pessoas e o maior estádio do mundo ainda não havia sido transformado em uma Arena, de gosto duvidoso, para atender ao chamado padrão Fifa, voltado apenas para as cifras milionárias da transmissão televisiva e de seus patrocinadores.

Tive a honra e a sorte de trabalhar no Jornal do Brasil em 1987, ainda pujante e que de fato tinha uma equipe extremamente talentosa sob o mandarinato do “Orelha”, apelido dado pelos mais atentos aos arroubos do chefe. Alberto tinha uma audição mais do que apurada, escutava os cochichos secretos, mesmo a alguns metros de distância. Era de uma vivacidade excepcional e vivia para o departamento fotográfico que exercia com um chicote para os desprezados e com um afago para “seu time”. Tive a sorte de ficar no time dos eleitos, talvez o último a ter a honra de pertencer à linha de frente de uma equipe que não teremos nunca mais, principalmente pela desvalorização do Fotojornalismo em uma época de proliferação da telefonia móvel e da subserviência dos responsáveis pelos departamentos fotográficos em mais uma Crise do Capital.

A Fotografia da Bicicleta do Pelé, feita em condições extremamente desfavoráveis, em uma época da luz mortiça no Maraca, com câmeras de controle manual e limitação de cliques, ainda não havia sido inventado o autofoco, nem o fotômetro através da objetiva nem o motor drive que têm sido a salvação de muitos “gênios” com nariz empinado. A foto única que vai ser leiloada em Londres pelo lance inicial de U$ 1 milhão foi objeto de muitas polêmicas. O Estadão e o Jornal da Tarde publicaram em destaque no obituário de outro grande fotógrafo, Domício Pinheiro, que tinha ao longo dos anos o maior arquivo e fotos variadas de Pelé, mas não tinha conseguido fazer a foto mais famosa. Raimundo Valentim e eu levamos a má notícia e os dois jornais ao Alberto que quase enfartou, ameaçou ir até São Paulo com advogado, invadir o prédio do Estadão para quebrar a cara dos responsáveis pela trapalhada. Tivemos após uma longa conversa (e sorrisos contidos) firmar o compromisso de conversar com a diretora da Agência Estado, a bela e poderosa Mônica Maia, para um encontro cordial. Assim foi feito, Mônica e “Seu Ferreira” tiveram longa conversa, um cheque foi dado, assim como uma retratação e ficaram amigos. Tempos depois o cartão de crédito Diner’s usou a imagem e pagou alguns dólares. Muitos anos se passaram, estamos agora no ano de 2021 na Europa se vive entra a esperança da pós-pandemia e a chegada da terceira onda, mas muitas atividades voltaram a funcionar. Aguardamos o leilão da Sotheby’s ou da Christie’s, que, embora tardio, alguns milhões de U$ dólares ou Libras sejam dados para adquirir uma imagem que nunca mais será feita. Alberto Ferreira conseguiu através de seu olhar de águia fazer a Foto Perfeita.

Alcyr Cavalcanti, presidente ARFOC-Brasil.